Venho, através desta, dizer que na primeira semana inteira deste ano, parei a pensar no que foi o ano que passou.
Um ano estranho de: não vá, não faça, não saia, nem pense em viajar, se cuide, cuide dos seus, cuide dos outros, cuide de estar e se manter vivo.
Um verdadeiro ano em suspenso.
Aulas, encontros, amigos, abraços, beijo, rua, acabar com a saudade e respirar. Respirar deixou de ser simples, ficou arriscado e te tamparam a cara para proteção. Sorriso, só aquele que os olhos conseguiram demonstrar e se sinta feliz por ao menos esse, de que falam os olhos, não estarem impedidos de se manifestar. E quanto eu sorri com os olhos o tempo todo e para tantas pessoas! Ainda é assim e não sabemos quando deixará de ser. Senti medo em 2020 e prosseguirei sentindo neste novo ano.
Estar vivo me diz que vencemos a pandemia, senhor Tempo. Ao menos até agora.
O que fez 2020 com a mente de cada um de nós?
Continuamos as mesmas pessoas, com os mesmos pensamentos, as mesmas atitudes e os mesmos comportamentos? A solidão não me afeta de maneira ruim, não poder circular livremente não me impede de seguir vivendo com observações de cuidados determinados por quem nos rege e que por decretos lei nos obriga a mantermos comportamentos, que visam nosso próprio bem e o do outro. Posso não concordar com nenhum deles e ainda assim obedecer, contrariada ou não, por vivermos em comunidade.
E como uma unidade que sou, dentro da comunidade Salto, em que estou neste você, senhor Tempo, inserida neste espaço, eu sigo obedecendo e torcendo pela vida, sanidade, sustento, força e ânimo de todos os meus pares, que hoje, são meus únicos próximos, dentro do limite que o distanciamento me impõe.
O que será este ano que acaba de começar? Eu não tenho muita ideia sobre. Eu gostaria muito de ver tudo voltando ao nosso antigo normal, ao menos em matéria de circulação, que o ir e vir fosse possível e que encontrar pessoas voltasse a ser natural.
Queria também, que as pessoas não considerassem normal 196 mil mortes no nosso país e 1 milhão e 800 mil no mundo. “Iam morrer de qualquer maneira.”, “Não foi Covid19, tinham comorbidades”, “Não se morre por mais nada nesse mundo? Só por Covid19?” Cada uma dessas e de outras frases no mesmo sentido, mata um pouco de cada irmão, filho, pai e mãe que teve alguém que partiu “antes do tempo” pelos caminhos dessa doença. Empatia que chama, sim?
Ferramentas de comunicação nos mantiveram próximos e prosseguirão assim, eu sei e agradeço, mas sinceramente senhor Tempo, como gostaria de te ver fluindo tranquilamente e de ti, eu pudesse fazer uso da maneira que desejasse e encontrando quantos corpos quisesse e abraçando quantos braços se dispusessem a me abraçar.
O abraço prosseguirá sendo o principal dos meus dias e os poucos que hoje dou me levarão a aguardar que o senhor auxilie do alto do seu observatório, que passados trezentos e sessenta e tantos dias, eu volte aqui e o agradeça, pois mesmo que não façamos um trato, ainda será em minha mente, trato feito de te ver passar.
Tempo, tempo, tempo, tempo…